domingo, 13 de julho de 2008

A Psicanálise e a Árvore do Conhecimento

Uma das coisas mais estranhas que se pode fazer com a psicanálise hoje em dia é deslocá-la do seu ambiente de aplicação, o chamado setting analítico - a clínica -, para utilizá-la como teoria política ou sociológica.

Passamos da clínica para a análise política.

Mas isso é psicanálise ou análise política?

E nessa quase imperceptível modulação instala-se toda a indústria pseudocultural de Slavoj Zizek & Cia. Venda massiva de livrinhos, artigos de jornal, programas de televisão, conferências de caráter científico etc. Uma picaretagem das mais baixas que eu já vi por aí.

É certo que Freud fez isso (não picaretagem, mas ingenuamente), em Mal-Estar na Civilização, ou Futuro de uma Ilusão, ou em Totem e Tabu. Mas... Convenhamos que nosso vitoriano Pai da Psicanálise estava muitíssimo interessado em comprovar a cientificidade & utilidade pública da psicanálise. Freud era bom de marketing, mas porque era uma espécie de Forrest Gump (uma vez um psiquiatra retardado ficou puto comigo quando eu disse isso.)

Outra coisa completamente diferente, mas muito diferente, é a atitude de Deleuze e Guattari (D&G) - não confundir com Dolce & Gabbana: saber que psicopatologia é política, que o delírio é histórico-mundial.

Veja a profundidade da coisa em Wittgenstein:

"Deixar-se psicanalisar é de algum modo semelhante a comer da árvore do conhecimento. O conhecimento que se adquire com isso, nos coloca (novos) problemas éticos; mas em nada contribui para a sua solução" (Cultura e Valor, p. 40).

É fácil saber isso: a solução de um problema aritmético, uma equação, por exemplo, não gera novos problemas aritméticos; mas a solução de um problema social gera, muitas vezes, outros problemas sociais.

Em psicanálise problemas se dissolvem, não se solucionam.

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