quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Filosofia de Botequim


Filosofia de botequim é uma coisa divertida - desde que saibamos bem quais são os limites. Ninguém deve tomar gato por lebre: o que se fala numa mesa de bar, fala-se por falar. O ritual se satisfaz em si mesmo, e nada ali deve ser levado a sério.

Mas as recomendações do bom-senso são difíceis de seguir. Principalmente aqui em Burundi, onde o que vale mesmo é o botequim.

Pois não é que se fundou uma nova associação de filosofia e psicanálise sem nenhum filósofo qualificado? Não quero ser tão injusto: há filósofos qualificados ali, sim, com graduação em faculdades arquidiocesanas. Arquidiocesanas? É, mas o MEC autorizou por enquanto. Vejam vocês mesmo em http://www.abrafp.org/

Mas imaginem: se uns caras como esses podem cobrar 60 reais por mês, quanto deveriam cobrar os que se qualificaram com doutorado (no mínimo) nas melhores universidades daqui ou de fora? E agora, pasmem: os mais qualificados não cobram nada!

Como se não fossem suficientes as parvoíces de Slavojs Zizeks de tudo quanto é tipo por aí, temos uma estupidez ainda mais profunda. Como disse Bernardo Soares, "o que mais me maravilha não é a estupidez com que a maioria dos homens vive a sua vida, mas a inteligência que há nessa estupidez".

Em matéria de filosofia e psicanálise (quero dizer "filosofia da psicanálise"), toda estupidez é perfeitamente possível. Ela é, como a própria vida, desprovida de método de decisão. Só contamos com a decisão.

Em psicanálise é o que basta.

Mas em filosofia, não. Filosofia, em geral, tem método. O método, ou a sua falta, é ela mesma. E, assim, conversa de botequim.