sexta-feira, 18 de julho de 2008

Querer Dizer o Todo



"Cada frase que escrevo tenta sempre já dizer o todo, portanto sempre o mesmo & elas são como visões de um objeto considerado sob diferentes ângulos" (MS 109, p. 207).

O Prof. Paulo Margutti, no livro Iniciação ao Silêncio. Análise do Tractatus de Wittgenstein (Edições Loyola, 1998), considerou a estratégia retórica do Tractatus sob o ponto de vista de uma teoria da argumentação, e encontrou uma peça literária farta de recursos técnicos, como paradoxos e contradições, cujo objetivo seria conduzir o leitor à contemplação mística e silenciosa do mundo, e à atitude ética, da qual, pelo Tractatus, nada se poderia dizer.

Pessoalmente, penso que essas estratégias retóricas atravessam toda a escrita de Wittgenstein, mas, depois do Tractatus, elas operam uma terapêutica. Continuam sendo silenciosas, continuam atuando pelo mostrar antes que pelo dizer, no entanto, em lugar da contemplação mística, o objetivo passou a ser a dissolução de dogmatismos.

Essa frase acima é de 1931. Ela já prenuncia a "visão de aspectos", formulada somente em 1947. Talvez, por isso, esse todo que se quer dizer, não pode ser dito senão sob cada aspecto, que é uma parte do mesmo objeto. Mas o todo, formulado, ou melhor, desenhado, indicado, mostrado, é, como tal, ambíguo, contraditório ou paradoxal – não pode ser dito. Ele serve apenas como estratégia para mostrar ao paciente que há mais possibilidades expressivas do que a única na qual ele se fixa. Vem daí a necessidade de variar-se os exemplos, criar analogias e questionar sempre o último argumento de cada proposição filosófica que pretenda um caráter apodítico.

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