sábado, 26 de julho de 2008

A é um Objeto Físico


Vou reproduzir aqui o parágrafo de Sobre a Certeza que meu amigo NN (No Name) postou em seu blog Methods of Projection (um dos três excelentes blogs que estão na minha lista de preferidos). Farei um comentário, e, em seguida, falarei com ele. Bem... talvez amanhã, porque hj já estou cansado.

Texto:
Sobre a Certeza § 36:
A instrução "A é um objeto físico" somente a fornecemos para quem ainda não entendeu o que significa "A", ou o que significa "objeto físico". É portanto uma instrução sobre o uso de palavras e "objeto físico", um conceito lógico. (Como cor, medida...). E por este motivo não se pode formular uma frase como "há objetos físicos".
Essas tentativas infelizes encontramos, no entanto, por todos os lados.

Comentário:
Nós já sabemos que Wittgenstein estava discutindo o valor de uma prova como "esta é a minha mão" como refutação do ceticismo, tal como pretendia o seu amigo George Edward Moore ("Proof of an External World" in: Philosophical Papers). O ponto é: uma frase como "esta é a minha mão" ou "há objetos físicos" não tem valor probatório. Elas funcionam como fundamentos inquestionáveis a partir dos quais, então sim, discutimos sobre a existência ou não de objetos. Tratam-se de certezas gramaticais. Como tais, não podem ser V ou F; como tais, tornam-se proposições absurdas quando mobilizadas como V ou F. O ponto é (novamente): diz-me o que dizes, e eu te direi o que fazes. Fazê-lo ou não é questão tua.

Ponto pacífico até aqui. Mas, agora, o que nem todos sabemos:

Vocês já repararam o quanto Wittgenstein é tributário em sua filosofia do "Princípio do Contexto" de Frege (Fundamentos da Aritmética §§ 60-62)? "Só no contexto da proposição as palavras têm significado". Isto é, assim como Frege pretendia fazer com que o significado das palavras estivesse garantido exclusivamente numa correlação formal, em vez de apoiar-se num dado empírico ou psicológico, também Wittgenstein, no Tractatus - e também depois, atenção! -, estende a alguma espécie de articulação formal a justificação do significado: o sentido como suporte formal ou determinação a priori do significado. Se antes a forma lógica era o único critério para essa possibilidade, agora esse papel se desempenha no exercício das regras gramaticais nas variadas situações contextuais, sentido e significado dados conjuntamente na situação pragmática. Daí a importância do contexto.

É como se Moore estivesse discutindo fora do contexto e aplicando tremendamente mal as suas frases. Falta-lhe o esclarecimento gramatical, sobram-lhe formulações confusas.

Mas vejam, e cuidado: não há uma teoria wittgensteiniana da gramática como há um princípio do contexto em Frege. Nosso filósofo pretende apenas terapia. Poder-se-ia realmente dizer "Moore está equivocado"?

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